Recarga de Extintores em SP

Extintor de Incêndio veicular | Ter ou ter? | Eis a questão

By 18/08/2020Prevenção

Extintor de Incêndio veicular | Ter ou ter? | Eis a questão

Há muitos anos, o Brasil optou por declarar obrigatório o extintor veicular.

Como no passado os veículos eram produzidos com mais de 95% de materiais metálicos, os extintores do tipo BC eram eficientes. Com o decorrer do tempo, a indústria automobilística começou a ampliar o uso de plásticos de engenharia, espumas sintéticas e tecidos, e os extintores de pó BC já não cumpriam a função, qual seja extinguir princípios de incêndio, visto que esses matérias citados são da classe de fogo A.

Esse não era um problema, visto que há os extintores de pó ABC, que são eficazes para extinguir os fogos de classe A, ou seja, fogos em plásticos, tecidos, couro, espuma etc…, além dos tipos B e C, ou seja, líquidos e gases inflamáveis e de origem elétrica, respectivamente.

A indústria brasileira do setor respondeu prontamente e esses extintores foram introduzidos na indústria automobilística. Como o pó ABC depende de produtos importados para sua fabricação, o custo dos equipamentos aumentou. Esse acréscimo de preço começou a incomodar tanto a indústria automobilística quanto os consumidores, estes últimos na hora da substituição compulsória a cada cinco anos, as montadoras quando da sua produção.

Vejam, os extintores saíam das montadoras com cinco anos de garantia e validade e se nesse ínterim algo de anormal fosse evidenciado, bastava o consumidor substitui-lo, gratuitamente, num representante do fabricante.

 A resolução do CONTRAN 556/15, tornou facultativo sua presença na parte dianteira do habitáculo do veículo ao alcance do condutor, para automóveis, utilitários, camionetas, caminhonetes e triciclos de cabide fechada. O custo dos equipamentos deixou de existir e nem por isso o consumidor foi beneficiado financeiramente, ou seja, só um lado ganhou.

Independentemente do lado financeiro, analisarei a questão do lado prático, efetivo, mostrando alguns cenários que realmente ocorreram e, por razões éticas e respeito à privacidade, vou deixar de mencionar os locais e as pessoas envolvidas.

1º cenário:

Um veículo de passeio trafegava numa pista sinuosa e, por descuido do condutor, chocou-se com a traseira de um caminhão. Como que por instinto, centésimos de segundos antes do impacto, o condutor conseguiu desviar um pouco o seu lado, e o impacto foi maior do lado do passageiro.

Como, felizmente, ambos estavam com o cinto de segurança afivelados, e os airbags funcionaram, o motorista conseguiu sair do veículo sem problemas, porém o passageiro não conseguia se soltar do cinto de segurança. Imediatamente surgiu um foco de fogo e fumaça. O desespero tomou conta do ocupante do veículo, pois não conseguia se soltar e abandonar o veículo. Nesse instante, um veículo passava pelo local e este condutor, num ato solidário, parou o seu veículo num local seguro e fez uso adequado do extintor de incêndio do seu veículo, conseguindo controlar o incêndio. Utilizando um canivete cortou o cinto de segurança que estava travado, caso raro, mas possível, e realizou a retirada da vítima sem maiores consequências, além de um atordoamento em função da colisão. 

O fogo assumiu proporções que o extintor não conseguiu extinguir, mas cumpriu fielmente sua missão, ou seja, retardou o alastramento do fogo, proporcionando tempo suficiente para salvar a vida de um dos ocupantes do veículo acidentado. Como diz o ditado: “foram-se os anéis, mas ficaram os dedos”.

2º cenário:

No início da noite de um domingo, pai e filho voltavam para o apartamento da família, após assistirem a uma partida de futebol. Entraram na garagem, estacionaram o carro e dirigiram-se ao elevador. Enquanto aguardavam a chegada do elevador, o garoto olhou para o pai e disse: papai, está saindo fumaça do nosso carro!

Imediatamente o pai falou para o filho, fique aqui e rapidamente se dirigiu ao veículo, abriu a porta , pegou o extintor de incêndio, e destravou o capô do compartimento do motor.

Abriu cerca de 15 centímetros e acionou o extintor por aproximadamente 2 ou 3 segundos, em seguida, cautelosamente, concluiu a abertura do capô, identificou o foco do princípio de incêndio, descarregando totalmente o extintor, o que culminou com a extinção. Para evitar uma possível reignição, soltou o terminal positivo da bateria.

A causa do princípio de incêndio foi que um chicote secundário, preso na lateria, soltou-se do suporte e o atrito decorrente da trepidação do veículo desgastou a capa deste e, posteriormente, desgastou a capa dos fios internos, originando um curto circuito. Desta feita tivemos um final feliz, pois o condutor do veículo sabia onde estava o extintor de incêndio e, por ter passado por treinamento da CIPA na empresa em que trabalhava há pouco tempo, soube utilizá-lo corretamente, chegando a bom termo.

Imaginem se o garoto não tivesse visto a fumaça e comunicado ao pai. O fogo teria se alastrado e, muito provavelmente, incendiado outros veículos estacionados, com consequências danosas ao patrimônio, às pessoas e ao meio ambiente.

3º cenário:

Em meados da década de 1.970, eu residia num bairro da zona norte, em São Paulo.

Num sábado à tarde, estava lendo na sala, quando, de repente, ouvi muitas pessoas aos berros, fogo, fogo!

Abri a porta e a cerca de uns vinte metros da minha residência, uma Kombi estava com fogo no compartimento do motor. O motorista estava com ambas as mãos na cabeça, com os olhos esbugalhados e estático, sem saber o que fazer.

Não tive dúvida. Apanhei as chaves do meu carro que estava estacionado em frente à minha casa, apanhei o extintor de incêndio e uma flanela e fui em direção ao veículo em chamas.

Como a rua tinha um forte declive e corria constantemente água na sarjeta, o líquido inflamável, no caso a gasolina, estava escorrendo em chamas e flutuava sobre a água, em razão de ter uma densidade menor, colocando em risco outros veículos estacionados.

Enrolei a flanela na mão esquerda, acionei a trava e levantei a tampa do compartimento do motor uns 30 ou 40 graus, acionando o extintor por uns 2 ou 3 segundos. Percebendo que as chamas diminuíram significativamente, completei a abertura da tampa, descarregando completamente o extintor de incêndio no foco do princípio de incêndio agora visualizado.

Por precaução, um vizinho trouxe uma mangueira de jardim e promovemos o resfriamento do motor e em seguida desligamos os terminais da bateria, para evitar uma provável reignição.

A causa do princípio de incêndio reside no fato de nesses veículos, a ligação da bomba de gasolina ao carburador ser feita através de um duto de material plástico que, com o tempo e exposto ao calor constante, resseca-o ocasionando uma fissura e com a pressão do combustível se pulveriza no motor, ocorrendo o princípio de incêndio.

Mais uma vez, o extintor de incêndio mostrou-se eficaz, ainda que nessa época fosse da classe BC.

 

Eminentes radialistas e âncoras de telejornais ousaram emitir juízo de valor a respeito dos extintores de incêndio veiculares e, por puro desconhecimento do assunto, disseram uma plêiade de equívocos, opiniões despendidas de qualquer fundamentação técnica. Alguns chegaram a comparar com o famigerado estojo de primeiros socorros, que nada tem a ver com os extintores de incêndio.  Somos humanos, portanto falhos, incompletos e imperfeitos. E como o Divino Mestre nos ensinou, temos que perdoar para sermos perdoados, e dentro desse ensinamento, apesar das bobagens ditas, sabemos da importância da mídia, que nos brinda com o benefício da informação, nem sempre totalmente isenta ou verdadeira, mas informação.

 

O que seguradoras poderiam fazer

A exemplo do que ocorre com as edificações, empresas que são seguradas, à medida que são incrementados dispositivos ou sistemas de proteção além do mínimo exigido, há um desconto no prêmio do seguro. Analogamente, esse critério poderia ser implementado para os seguros veiculares.

O cliente decidi se quer ou não colocar o extintor de incêndio veicular, já que tudo aquilo que nos é imposto, ocorre uma rejeição natural à sua aceitação.

 

O que os fabricantes de extintores poderiam fazer

Os fabricantes poderiam unir esforços e produzirem um vídeo, de curta duração, que mostrasse a correta utilização dos extintores de incêndio veiculares, bem como a sua verificação periódica, visando mantê-lo apto ao uso, com segurança e eficácia.

A mídia isenta e verdadeira poderia contribuir com a veiculação desse vídeo educativo, periodicamente, nos três períodos (matutino, vespertino, noturno) e, por que não de madrugada, com essa medida, atingiria vários públicos.

Finalizando, a vida é feita de escolhas, e a nossa consciência é o juiz mais imparcial, ter ou não ter um extintor veicular instalado no seu veículo ficará a cargo da sua consciência e, seja ela qual for, sofrerá as consequências dessa decisão no futuro!

 

Waldir Pereira

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